O Drama: Comprar um jogo

O Drama!



Pois é, comprar um jogo. Aquilo devia ser uma experiência maravilhosa e se transforma só em mais um poço de stress.

Enquanto jogadores ainda à espera da primeira oportunidade para ir a encontros, a única forma que fomos tendo para experimentar novos jogos era comprar e jogar. Não sendo os jogos baratos (falaremos disso outro dia), requer alguma análise prévia antes do momento de abrir a carteira e ver o nosso capital voar.

O processo começa quase sempre da mesma forma, ando eu a passear no Youtube e lá aparece um vídeo que tem aquele jogo lindo de morrer e que o indivíduo que está a falar sobre aquilo pinta como sendo a nata da nata. Mas como certamente a Inês disse às amigas quando me apresentou: "o que importa é o interior não exterior".

Quando comecei a jogar, há cerca de 3 anos, o indivíduo que falava através do ecran do meu pc era Deus e eu devia, enquanto devoto seguidor, obedecer aos seus ensinamentos. Passado algum tempo lá me apercebi aquele indivíduo afinal não era Deus e eu não tinha dinheiro para obedecer aos tais ensinamentos. Aquele indivíduo (ou indivíduos, porque vejo vários vídeos) apenas me dava mais uma grande ferramenta para eu me ajudar a decidir.

Agora a pesquisa é mais cuidada e já sei também melhor aquilo de que gostamos cá em casa. Procuro o BGG, leio umas quantas reviews e tento ver como se joga. Por fim o último passo antes de decidir se gasto o dinheiro, embora admita que às vezes faço de conta que me esqueço dele, é fazer um pitch do jogo à Inês. Super entusiasmado, como qualquer gestor de produto a defender o seu emprego perante os clientes, lá tento justificar que vou outra vez rebentar 60€ do nosso orçamento e que aquele jantar vai ser adiado pelo 4º mês seguido.

Esta abordagem que temos de comprar para experimentar, não podia estar mais errada, mas é o preço que temos de pagar em virtude daquilo que este blog tenta explorar, aqueles que ou não têm um grupo de jogo variado ou simplesmente não conseguem ir aos encontros.

Outro defeito que reconheço, a efectiva variedade de jogos que acho que vou gostar, a título de exemplo: habitualmente gostamos de jogar eurogames mais pesados, mas ainda agora comprei o Just One, um party game bem conhecido e fiz a pre-order do Gloomhaven: Jaws of the Lion, dois exemplos que podem acabar por não ser tão bem aceites dado o nosso historial de jogos. Felizmente, eu tenho a sorte de me poder dar ao luxo de não gostar de um ou outro jogo que compre, mas obviamente nem todos temos a mesma sorte e cada compra deve ser ponderada.

Existe no entanto uma ferramenta que ainda não explorei a sério: as plataformas online. Na minha opinião, apesar de poderem dar uma boa ideia das mecânicas de jogo acho que acabam por tirar algum do feeling que penso que todos procuramos quando compramos e jogamos um jogo de tabuleiro.

Antes de me despedir, até porque o texto já vai longo e todos temos jogos para jogar em vez de estar a ler isto, queria deixar só mais três pontos a considerar:
  • As promoções, até que ponto vocês são influenciados por isso? Eu sou um bocado, e aquelas letrinhas a dizer PROMOÇÃO são ainda hoje um chamariz...já devia estar calejado, mas é mais forte que eu e aqui entra um pouco a veia do coleccionador;

    • A procura pelas novidades, o que no inglês gostam de chamar. Aquele jogo acabado de sair, daquele designer que já tanto gostamos contra outro já amplamente jogado e mais do que confirmado que é um grande jogo. Confesso que também sou um bocadinho o banana que vai atrás disto. Ou serei mesmo um banana? A maior parte dos designs mais recentes serão melhores que os anteriores...em princípio.

    • A relativa facilidade com que conseguimos "reciclar" os nossos jogos. Aqueles que acabam por não servir para mim, servem para alguém. Eu tenho tido grandes experiências tanto na venda como compra de jogos usados e aconselho-o vivamente. A comunidade é excelente, educada e receptiva!

    Mas chega de falar de mim. Vocês como fazem para comprar jogos ou experimentar jogos novos. Experimentam sempre antes de comprar? Vão atrás das novidades? Arriscam num jogo que não tenham a certeza? Jogo a apanhar pó fica na prateleira pelo valor sentimental ou é despachado?

    Cá aguardo os vossos comentários.

    Adeus....



    Comments

    1. O meu processo de escolha não difere muito do teu, até porque considero as reviews escritas e as questões dos fóruns do BGG muito proveitosas (muita vezes percebemos que há problemas com as regras ou com o equilíbrio do jogo ao ler os fóruns) mas é inegável que as reviews no YouTube são fundamentais para melhor perceber a parte visual (não sei quanto a vocês, mas para mim tem um valor importante) e a própria dinâmica do jogo. Diria mesmo que os playthroughs sao mais importantes ainda do que as reviews.

      Compras por impulso? Penso que quase todos as devemos ter feito, ou vamos decerto fazer, um dia. Obviamente q depende da possibilidade de cada um, mas vai acontecer.

      Pessoalmente não vou atrás da novidade, espero quase sempre que o jogo saia, a não ser q seja uma expansão de algum jogo que adore ou de um designer do meu agrado.

      Tenho imensa dificuldade em desfazer-me dos jogos, imensa. Tenho 3 para vender e na última nunca consegui ter a coragem de fechar a venda. Sinto sempre que vou ter mais tempo para o jogar, ou penso que um dia os meus miúdos vão querer experimentar e vão gostar... há sempre algo a puxar-me para o Lado Bom da Força.

      Em suma, tenho o mesmo problema que vocês, não tenho grupo e ainda por cima emigrei, por isso a malta com quem jogava ficou longe. Como entretanto também me tornei wargamer, tentei ir experimentar nas plataformas online um ou outro jogo mas, tirando o Twilight Struggle q tem uma versão digital magnífica, não consegui gostar... impessoal, não se mexe nas peças, tenho dificuldades em me organizar não tendo tudo no meu campo de visão, não gosto. Nesse sentido considero a plataforma online pouco eficaz para se conhecer um jogo novo, e suficiente para se “matar o bicho” na impossibilidade de jogar uma versão física com alguem.

      Tenho imensa pena de não ter descoberto o mundo dos jogos quando vivia com os meus pais e irmão. Peguei-lhe o bicho, temos coleções já granditas mas como estamos ambos emigrados só conseguimos jogar pelo Natal (e a espera vale por cada segundo).

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      1. Antes de mais obrigado pelo teu comentário!

        Essa perspectiva é bastante interessante, tendo em conta que não estás em Portugal deve ser muito difícil voltar a engrenar. Não consegues arranjar um grupo onde estás?
        Eu gostava de ser também assim nas novidades, mas por exemplo eu gosto imenso do Coimbra, nem que seja por ser baseado aqui na terra natal, e eles estão agora para lançar o Alma Matter e eu já ando fisgado como um qualquer bom cão de caça!

        Falaste num ponto super importante, playthroughs!! São uma das melhores coisas, é o que realmente mostra se o jogo vai funcionar bem connosco. A parte visual não achamos fundamental mas obviamente quanto mais agradável à vista melhor. Mais uma vez vou usar o Alma Matter como exemplo, visualmente não me diz nada, não por gostar ou não gostar, simplesmente porque é igual à do Coimbra, portanto nada novo.

        No natal também "obrigo" o meu irmão e às vezes a minha mãe a jogar, mas acaba sempre por ser uma óptima experiência.

        Eu desfaço-me com alguma "facilidade", temos regras para isso mesmo. Jogos que não saem da prateleira há x meses consideramos: tem valor sentimental e gostamos mesmo muito? Fica; não tem e achámos só ok? Xau.

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    2. A vida é um processo continuo de aprendizagens.

      Dito isto:

      Em relação aos "Youtubes" e afins, temos de ter noção, a maior parte daquela malta ganha a vida a promover os jogos. Há um rapaz que produz este tipo de contudo num canal internacional e com o qual até simpatizo mas caramba, os jogos para ele são todos bons e fala de todos com tanto entusiasmo que se não tivermos cuidado em menos de nada estamos a comprar uns 3 jogos por semana. Passei só a ver a "apresentação" do jogo, suas mecânicas e se possível um gameplay e deixei de consumir a sua opinião que aparece no final dos videos.

      Board Game Geek, é uma ferramenta e sugiro que deva ser usada como uma ferramenta, para ter acesso a questões acerca das regras de um jogo, ou melhoramentos dessas regras, chamadas "house-rules", ter também acesso a erratas. Acho que será um erro usa-lo para procurarmos construir uma opiniao acerca determinado jogo pois aí teremos sempre quem tenha gostado, quem tenha odiado e quem ande pelo meio dos dois extremos. Corremos o risco de encontrarmos a opinião que o nosso subconsciente ande à procura.

      Promoções, tal como as promoções do supermercado, compensa aproveitar o desconto do queijo e do fiambre se eu comer queijo e fiambre e passar ao lado do desconto do pack de cervejas se eu não gostar de beber cerveja.

      Novidades, as novidades têm um custo, tal como um automóvel novinho em folha pronto a sair do stand cujo preço tem uma elevada percentagem reservada ao privilégio de ser o primeiro a colocar o seu nome no livrete. O mercado de segunda mão é bom e recomenda-se, desde que se consiga jogar bem com os custos de envio ou privilegiar a entrega em mão.

      Versões digitais dos jogos, simplesmente evito-as por já passar bastante tempo ao computador a trabalhar. Entrei no mundo dos jogos de tabuleiro para poder encontrar um passatempo offline e prefiro jogar a solo do que quebrar este principio.

      Entretanto o meu gosto evoluiu um pouco e neste momento sinto necessidade de um jogo com uma componente histórica, que me permita inclusive ganhar o interesse por depois pesquisar mais alguma informação sobre esse momento da humanidade. O trocar cubos amarelos por cubos azuis por cubos brancos já não me entusiasma tanto...

      E finalmente, REGRAS! Tive de as definir e aprimorar. Neste momento só posso comprar um jogo se tiver vendido dois jogos ou então se tiver feito troca directa por outro jogo. Para além disso defini um plafond máximo de valor gasto na aquisição de jogos e que se conjuga com um numero máximo de jogos que posso ter na minha coleção. Isto porque considero que não preciso ter 200 jogos quando no máximo jogo uns 30-50 por ano. Mas confesso que tenho (erradamente) dois ou três troféus na colecção e outros tantos à espera que os miúdos cresçam um bocado.

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      1. João este teu último ponto é igual ao nosso..para já definimos o limite nos 30 jogos, mas digamos que a contagem é assim um bocado mais ou menos. No final de 2019 a colecção levou um valente corte de jogos que realmente não tinham caído tão bem entre nós os 2 ou que simplesmente não estavam a a ir à mesa. Falarei sobre eles mais à frente.

        Acho que todos nós temos de definir realisticamente o que conseguimos ou não jogar, caso contrário, a não ser que tenhamos um poço de dinheiro, temos de gerir a colecção. Para além dos custos que isso acarreta ainda há a questão do espaço de prateleira.

        Reviewers que são pagos para falar bem do jogo, não me incomoda desde que isso seja transparente. Afinal de contas se isso for o trabalho deles, também têm de pagar as contas ao fim do mês.
        Mas concordo também eu ando a inclinar-me mais para os playthroughs do que opiniões propriamente.

        A parte histórica dos jogos é realmente interessante e um dos próximos posts será uma espécie de review, vá mais a minha experiência, que tive com o jogo que o que me chamou imediatamente foi o componente histórico do jogo!

        Nas novidades eu considero-me ainda culpado, acho realmente que ainda tento ser esse gajo que quer ser o primeiro a por lá o nome, embora admita que raramente o acabo por fazer, mas isso é mais uma gestão de carteira que de vontade.

        Obrigado Joao, boa resposta

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