Tertúlia - O Amor pelas Fichas de Poker




Olá pessoal como podem ver isto é um blog muito coerente e assim sendo depois de ter prometido que iríamos ter uma pequena conversa com o Francisco Maia, aí está ela porque, prometido é devido! O Francisco é o talvez o maior evangelizador do 18xx no nosso país e hoje resolveu juntar-se a mim para uma amena cavaqueira sobre "O amor pelas fichas de poker". 


Francisco antes de mais quem és tu?

FM: Sabes aquelas pessoas que serão sempre jovens independentemente da idade que tenham? Sou o contrário. Nasci com 63 anos, e só fiquei mais rabujento com a idade. Sou professor de Inglês, estudante de Filosofia, jogador pesado de jogos pesados. Na vida real sou de Humanidades, na vida de cartão prensado sou Economista de Renome Mundial.


Eu sou essencialmente um Eurogamer e gosto muito que as minhas vaquinhas sejam trocadas por pontos, mas tu preferes especular o preço das acções da CP...porquê os 18xx?

FM: Essa é uma pergunta que me fui fazendo e que foi muito difícil de responder mas que penso já ter a resposta: jogo destrutivo. Adoro. Muita gente pensa que interacção negativa é take that. Munchkin. Jogar uma carta e lá se vão 30VPs do adversário pó galheiro. Isso é má interacção negativa. O jogo destrutivo, ao contrário do construtivo, é um jogo onde a interacção principal é atirar pés-de-cabra para as rodas dentadas dos adversários. 18xx fá-lo com imenso estilo. Porque toda a patranha que queiras fazer parte não de uma carta qualquer, mas das regras essenciais do jogo. Para além disso, acarretam sempre risco significativo suficiente para te fazer pensar bem se queres mesmo atacar o jogador X. Mas mais que a interacção negativa são as alianças efémeras, os interesses comuns, as traições, as galopadas de último lugar para primeiro, os avé-marias. 18xx oferece arcos narrativos que não vejo em mais género de jogo nenhum. Imagino que wargames também tenham disso, mas ainda não me afundei o suficiente nesse nicho.


Para os eurogamers como eu, mas que tenham vontade de tocar na superfície dos 18xx por onde começar? Eu sempre fugi destes jogos porque acho que a dois devem ser só uma bela treta, isto é verdade ou há algum que dê para dois?

FM: Eh, não tá longe da verdade. Eu pessoalmente só muito raramente é que jogo a 2. Desaparece tudo o que faz 18xx brilhar e deixa só os aspectos mecânicos. Mais vale jogar Carcassonne, assim. Mas há dois que são realmente melhores que todos os outros: 1860 e 1862, ambos do Mike Hutton. Quanto a iniciados, este ano trouxe excelentes notícias: desde o lançamento do 18Chesapeake, para novatos, à implementação do site 18xx.games (onde se pode jogar 18xx online de graça!) estamos muito bem servidos! Mas se alguém se quiser aventurar, eu escrevi um artigo para ajudar à entrada no nicho ferroviário.


E agora vamos lá pegar no tema desta conversa, o teu amor pelas fichas de poker. De onde surgiu este amor? E quais as tuas preferidas.

FM: O amor surgiu 100% pelas moedas metálicas nos jogos. Isto quando ainda jogava muitos euros. Continuo a achar que são fenomenais. As minhas preferidas são as do Lisboa, que a EGG fez, por causa da versatilidade victoriana do design. Mas depois comecei a jogar Económicos e algo teve de mudar. Tive de comprar um set de fichas para conseguir jogar o meu primeiro 18xx (1889!) e nunca mais olhei para trás. Todo o jogo que meta dinheiro leva com as fichas em cima. O que chega a ser ridículo quando levo a caixinha do Vende-se de 30g ao lado da maleta de fichas de 25kg....


Nos eurogames eu acho que formas de dinheiro mais bonitas são engraçadas e melhoram a jogabilidade mas pelo que vejo de malta dos jogos económicos é pecado jogar sem umas fichas...na verdade vocês não passam de uns snobs não é?

FM: Quem me dera dizer que sim, porque sou um elitista do caraças. Mas não é snobeira. É pragmatismo. Falas de jogabilidade e é 100% o caso aqui. Num jogo económico é importante saber sempre quanto dinheiro é que os adversários têm. Se olhares para as bordas das fichas de poker vês que não são lisas (têm 2 cores). É para se distinguirem  quando empilhadas. Eu consigo dizer do outro lado da mesa qual é o teu valor só de olhar 5 segundos para o teu molho de fichas. Experimenta fazer isso com moedas metálicas ou ........gulp....dinheiro de papel.....(onde é que está o emoji de vomitar??). Depois claro que há alguma snobeira. As minhas primeiras fichas custaram-me meia dúzia de patacas. Para comprar as minhs mais recentes e muy aristocráticas fichas tive de vender um filho. Worth it.


Desculpa também não sei por emojis nisto...Isto das fichas requer amor e carinho? Como tratas as tuas fichas? Estou-me a lembrar por exemplo, das sleeves para evitar que os dedos gordurosos dos nossos amigos se esfreguem nelas.

FM: Algum, e nenhum. Fichas são estupidamente fáceis de tratar e limpar. Mais que isso estão sempre (ou deveriam estar!) dentro de uma maleta para protecção. Existem algumas cocozices como olear fichas para que ganhem brilho e atrito, mas nunca fiz isso que dá uma trabalheira do caraças.


E isto é tudo muito bonito mas um set destas vossas fichas custa um novo jogo, vocês não preferiam um jogo novo? Pensa bem...

FM: Aqui é onde entra a relatividade do hobby. Um novo 18xx custa 3 ou 4 jogos do costume. E só precisas de comprar fichas uma vez! Servem para todos os jogos. Acho que vale mesmo a pena abdicar de um jogo que vai ficar na prateleira porque era muito giro mas não te lembraste que não tens amigos com quem jogar e comprar um set de fichas em vez disso. Os mais baratos rondam os €30 por 500 fichas (para começar, 300 fichas chegam e sobram). Já mais bonzinhos consegues por €60 uma cena decente. E nunca ficam na prateleira a ganhar pó.


Preferias jogar monopólio com fichas ou 18xx com dinheiro de cartão?

FM: Já perdi um filho por causa das fichas e agora fazes-me isto? 18xx com dinheiro de cartão. NEXT QUESTION.


Se tiveres de andar de avião, e tiveres de levar as fichas, pagas um bilhete para ir na cadeira ao teu lado?

FM: Nunca paguei, MAS! Fui parado em Heathrow porque poderia ser uma bomba. Eu bem tentei explicar mas só me diziam que nunca se sabe. Fiquei à espera da equipa de segurança, lá chegaram e só se riam. Abriram aquilo na boa e foram-se embora. Os revisores viram as fichas e queriam "deter-me para perceber se não era contrabando" mas chegou um boss qualquer que me pediu desculpas que estavam todos malucos. Ia perdendo o voo pelo meu amor às fichas!

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Acabamos por aqui esta tertúlia e eu quero acima de tudo agradecer ao Francisco Maia por ter aceite participar nisto. Não se esqueçam é de tirar um bocado do vosso dia para ler o blog do Francisco que é bem mais interessante que este:

https://lemonsboardgames.wordpress.com/

Portanto deixem-se de tretas e passem por lá, aprendem umas coisas.




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